O que fizemos nesse ano de pandemia? O que planejamos fazer no próximo ano que também será de pandemia? Será que a próxima pandemia será de amor? Ou será que vamos apenas voltar ao normal quando a vacina chegar e um dia vamos lembrar historicamente de pinceladas sobre Covid como temos hoje, pinceladas sobre a Gripe Espanhola? Quase 365 dias passaram num verdadeiro piscar de olhos, entramos num novo ano como se o anterior não tivesse acabado... E apesar de ter passado tão rapidamente foi um ano recheado de acontecimentos históricos e pessoais que ficarão para sempre registrados. Não que não tenhamos registrado o que aconteceu nos outros anos, mas parece, pelo que as pessoas comentam, que nesse ano, nossa memória foi ativada, despertada, de um modo como talvez não aconteça novamente, como se recebêssemos um estalo cerebral (como a Lucy quando o pacote de drogas estourou em seu corpo) que ativou nossa capacidade de usar nosso cérebro amplamente e de usar o nosso coração. Esse “boom” nos relacionamentos tecnológicos não aconteceria de outra forma de uma maneira tão maciça, mas ainda assim, as distâncias não puderam ser superadas, as distâncias que temos em relação aos outros, as distâncias que temos em relação a nós mesmos. Entre alguns foram criadas pontes, entre outros fossos ainda maiores. Como é possível que o amor, por exemplo, possa se ter desfeito, por uma simples pandemia? Talvez seja simples responder, não era. Não era amor. O que sabemos nós afinal, sobre o amor? Sabemos sobre desejos que precisam ser satisfeitos, apenas isso. Talvez para alguns tenha sido muito bom criar uma nova versão de si mesmos na qual afastar-se das pessoas, o que foi absolutamente necessário, tornou-se confortabilíssimo. Para outros, criar uma nova versão de si mesmos na qual aproximar-se de si mesmo foi um verdadeiro caos, talvez tenha sido um grande sacrifício, porque estabelecer relações superficiais é sempre muito mais fácil. Enquanto alguns criaram novas possibilidades de vida, outros continuaram no mesmo lugar, apesar de todas as mudanças que precisaram enfrentar. Satisfação ou caos, cá estamos nós com o pés num novo ano. E nesse novo ano, podemos continuar agindo da mesma maneira ou mudarmos pra melhor, pra uma versão melhor, o nosso verdadeiro propósito nessa vida. Você encontrou novos propósitos? Você tem afinal o quê para contar desse ano? Você votou ou apenas reclamou da política? Você foi amável com as pessoas ou você apenas queria mesmo é que elas fossem pro inferno? Você dividiu seus segredos com alguém confiável? Você levou um toco? Levou um tombo? Você perdeu alguém que amava? Você chorou com alguém que perdeu alguém que amava? Você teve um filho? Você estudou? Você aproveitou seu tempo com você pra se encontrar? Você falou com Deus? Você ajudou alguém? Você pediu as compras pelo delivery? Você mandou recadinhos de afeto para alguém? Você cultivou seus amigos? Você foi um novo você ou foi apenas você mesmo? Você criou metas novas? Você seguiu as metas que planejou? Você tem metas novas para o que está por vir? Você sentiu saudades de quem não está perto? Você quis pessoas mais perto? Você quis muito abraçar alguém? Você abraçou as pessoas mesmo sem poder realmente abraçá-las? Você sorriu? Você foi gentil ou uma merda de pessoa? Você deu às pessoas a oportunidade de lhe desprezar como você já fez várias vezes? Você respondeu as suas mensagens só por obrigação? Você fez exercícios físicos? Você dormiu direito? Você dormiu sozinho ou dormiu com alguém? Você ficou acordado com alguém? Você ficou acordado com você mesmo e apreciou sua companhia ou entrou em desespero porque foi terrível descobrir quem é? Você tomou banho e escovou os dentes? Você perdeu dinheiro? Você ganhou dinheiro? Você fez novos amigos? Você cultivou suas inimizades? Você disse a alguém “Deus te abençoe” sem ter vergonha de fazer isso? Poxa, você viu a beleza das coisas? Ou você só seguiu conforme a correnteza da pandemia o levou? Você culpou a pandemia? Com a pandemia, a única coisa que mudou pra mim, tirando o fato de que eu deveria me cuidar principalmente para cuidar daqueles que são mais caros a mim, eu aprendi a cultivar novas pessoas e aprendi a deixar de lado algumas pessoas antigas... Antigas não por serem antigas em minha vida, não por conhecê-las há muito tempo, mas antigas porque pararam no tempo, num tempo que eu não reconheço e não consigo entender. E porque com ou sem pandemia não consigo achar espaço para elas... Mas eu continuo acreditando nas pessoas, porque assim como eu, elas são um laboratório, um observatório: algumas com comportamentos totalmente previsíveis, outras uma verdadeira caixa de encantadoras surpresas! Fora isso eu fiz tudo igualzinho, inclusive escovar os dentes. Lembrei também que nesse ano eu perdi um dente, aparentemente pelo stress que não veio com a pandemia, veio de outras coisas, mas que felizmente já tem outro no lugar. Ah, também vi a Estrela de Natal, que não aparece mais no céu, mas que vi com minha família no dia de Natal, lindo, não é? De resto eu sou a mesma, mas para muitas pessoas eu já mudei há muito tempo! O meu amor só aumentou! Esse ano não foi diferente... Ele foi um ano, um ano apenas... Um ano no qual a maioria de nós vai continuar sendo exatamente igual, porque a pandemia não muda ninguém, a gente só muda se tiver vontade e coragem para ser diferente...
As pessoas sabem pouco sobre a morte, mas, se pudessem discorrer sobre isso, teceriam muitas opiniões, inclusive sobre como se deve comportar diante dela... Abriu seus olhos lentamente... As pálpebras estavam pesadas, havia uma massa liguenta de muco que impedia seus olhos de enxergarem desanuviadamente... Naquele instante lhe ocorreu que estivesse morto porque tinha muita gente chorando e não conseguia ter certeza se era assim para todos, mas em geral, pelo que sabia da vida, as pessoas sempre resolviam chorar por quem morreu. Era diante da morte que lhes vinha o desejo de pedir perdão por tantas coisas: pela falta de gentileza, pala falta de paciência, pelo desamor, por um alívio inconsciente, por pensar nos projetos com a herança que iriam receber, por se verem sozinhas pra terminar de criar os filhos, por revolta por terem sido abandonadas, por não saberem o que fazer sem aquele ser cuja vida terrena se esvaía. Os que estavam no leito de morte, em geral também pediam perdão, mas
Que delicia em ler seu texto,nos questiona e faz refletir: sobre o viver. Sinto por aqueles que ficaram na curiosidade do Facebook ,e não tiveram a coragem de terminar a leitura.
ResponderExcluirParabéns sempre.
👏👏👏👏
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