Esse
texto começou a ser gestado ainda na época das últimas Olimpíadas e como vários
outros ficou na caixinhas dos guardados, dos vários protótipos de textos que
coloco na pasta “textos em andamento” porque sempre acredito que tem algo ainda
mais para acrescentar-lhes... Algo a mais ainda por se dizer... Então assistindo
às Olimpíadas, à ocasião, eu comecei a observar aquela mulherada porreta se
destacando muito, mulheres fortes, muitas delas mães e esposas dedicadas, todas
elas filhas, amigas, mas sempre, fortes e certas de seus objetivos. Percebi que
a maioria dos homens que comentavam no esporte eram incapazes de perceber as
mulheres que personificavam aquelas maravilhosas mulheres atletas.
E
também que, a maioria dos homens com os quais eu convivia naquele período (que
eu chamo de “meus homens”), excetuando-se os meus amigos gays obviamente, era
incapaz de perceber as mulheres que estavam ao seu redor, aquelas com as quais
tinham mais trocas. Em geral, deixavam transparecer claramente o quanto era
bacana que as mulheres fossem um protótipo masculino e talvez só por isso, as
notavam.
No
caso dos comentaristas, pelo desempenho atlético das garotas. No caso dos “meus
homens”, pelo desempenho das mulheres em realizar as tarefas que
tradicionalmente julgavam ser masculinas, mas que nunca dariam conta de
realizá-las, porque pra poder fazer isso é preciso entender que todas as
relações humanas, seja qual for o grau de aproximação, precisam de troca, não
deve existir algo que seja tipicamente coisas pras mulheres fazerem, nem coisas
pros homens fazerem, não deve existir mesmo que tenha se convencionado assim.
Então
achando bacana que elas fossem um protótipo masculino, eles realmente achavam
um saco que elas de vez em quando precisassem de atenção com coisas que eles
julgavam menos importantes, que elas chorassem com coisas que pra eles não eram
tão importantes, que de vez em quando quisessem um programa que atendesse suas
necessidades, que de vez em quando precisassem de papel higiênico para fazer
xixi, que não gostassem de piadas promíscuas dos amigos deles, cujo foco eram
elas, porque isso dava uma impressão de intimidade que elas nunca teriam com
aqueles caras, mesmo que um dia estivessem bem próximas deles, quando não
achavam que tudo era engraçado então não riam de qualquer piada, quando não
tentavam disfarçar que uma situação não as agradava...
São
percepções do que acontecia ao meu redor, comigo e com várias mulheres do meu
convívio. Homens em geral não compreendem “mulherzisses” e mulheres, em geral,
não compreendem “homenzisses”. Talvez esse aí esteja o elo perdido, homens e
mulheres precisam tentar conhecer essas diferenças, compreendê-las, mas tentar
com vontade mesmo. E aí se for mesmo tão incompatível, talvez se precise partir
pra outra.
Trata-se
de “gentisses”! Isso se refere a todo tipo de relacionamento! Ter gente perto
da gente e ser gente perto de outras gentes é das experiências mais
maravilhosas! Mas precisamos nos dar ao esforço não de reciprocidade a tudo,
mas de reciprocidade das coisas boas que temos a oferecer e mesmo que aceitando
as coisas não tão boas que nos chegam, entender que talvez, não seja possível
“tirar leite de pedra”, ainda que tenhamos um aprendizado muito grande e
contínuo sobre como isso seria possível.
Eu
emprestei esse título de algumas das minhas leituras, de Veríssimo, mas isso não
se refere a “ter mulher quem pode”, nem ter homem quem pode, mas ter gente e
ser das gentes, para quem se dá ao esforço da reciprocidade...
Seguindo
nessa lógica aí de observar minhas relações àquela época, alguns dos “meus
homens” e também algumas das “minhas mulheres”, tinham a mais elevada admiração
por aquelas mulheres que se comportavam com traços homenísticos e um desprezo,
quase que indisfarçável, pelos homens que se comportavam com traços mulherísticos.
Não havia mesmo como surgir qualquer tipo de conexão profunda e duradoura,
daquelas estáveis que se leva vida afora...
Então
sempre me pergunto, pra o que não tenho resposta, porque a gente fica tanto
tempo convivendo nesses meios de intolerância. Quero dizer, a intolerância
existe, ainda que seja deplorável e a gente pode até aprender a lidar bem com
ela em situações mais superficiais da vida, do cotidiano, mas a questão é, por
que a gente fica tentando aprender a lidar com ela em situações mais íntimas da
vida, do cotidiano? Algumas dessas deslizadas nos deixam estagnados por anos e
depois que a gente finalmente percebe que o afastamento daquilo ali era
necessário, parece que fica por mais uns anos sem saber ao certo em que chão
está pisando...
Alguns
dos “meus homens” e também algumas das “minhas mulheres” daquela época, olhavam
(eles para suas mulheres e elas, para seus homens) como se realmente fosse
muito absurdo de vez em quando seus pares de relacionamentos (os vários dos
quais falo aqui) quererem um tempo só entre eles, de vez em quando não ficarem
satisfeitos em ser a última opção porque era aquela opção que sempre estava ali
(e é exatamente assim que acontece quando se acredita que as pessoas estarão
sempre ali pra nós...), de vez em quando quererem tê-los inteiramente. Mas isso
seria impossível, porque algumas pessoas se veem livres demais para
relacionamentos com outros humanos e não conseguiriam mesmo compreender que a
liberdade não é uma virtude que se adquire deixando os outros pra trás... Então
deve ser por isso que é tão desafiador perceber que precisamos dar um tempo de
algumas pessoas. Justamente aquelas que se veem mais livres e seguem sem olhar
pra trás ou para os lados, mesmo tendo pessoas ao seu lado, são as mais
prisioneiras, de suas próprias verdades, e isso é fato. Não percebem razões
para mudar, porque se bastam, ficam satisfeitas em não precisarem se ocupar com
mais ninguém além de si mesmas. E isso é um profundo desamor.
Alguns
dos “meus homens” e também algumas das “minhas mulheres” esqueceram muito
rapidamente de seus pares, do quanto era boa a maionese de domingo, do quanto
era bom passar a madrugada conversando, do quanto era bom ficar o dia todo sem
fazer nada juntos, do quanto era boa a espera por chegar de viagem, do quanto
tudo era bom, até o que não era tão bom.
E
naquelas relações mais íntimas, esqueceram do quanto a pele de seus pares era
macia, do quanto acreditavam haver muito em comum, do quanto eram parceiros e
impulsionavam um ao outro a seguir, do quanto costumavam gostar muito disso, do
quanto costumavam se gostar muito.
Mas,
bem talvez, o esquecimento vem rápido demais porque a noção de que isso era
real existia apenas para um dos envolvidos. Tá aí, aquela tal reciprocidade,
que nunca poderia vir mesmo, porque a máxima de que cada um dá o que tem nunca
foi tão verdadeira e algumas pessoas não conseguem enxergar que é precisa
ampliar nosso cardápio de ofertas. Cabe pensar no que queremos oferecer às
pessoas e inevitavelmente nos afastarmos das que não nos podem retribuir com
coisas boas, a menos que saibamos lidar com isso e ficarmos bem... Eu ainda não
aprendi e nem sei se vale a pena...
Não
importa se você nunca foi trocado pelo vídeo game ou por uma daquelas baladas
cheias de gente simetricamente bonita, por exemplo. Mas deve ter sido trocado
por outras coisas e por outras pessoas. Normalmente a gente é trocado e não
vemos dessa forma pelo fato de sermos egoístas e não ter a mínima intenção de
respeitar o espaço e a individualidade que cada ser em nossas relações precisam
ter (alguns de nós talvez sejam somente egoístas mesmo), mas somos trocados,
porque pra muitas pessoas com as quais nos relacionamos, é mesmo muito mais
fácil trocar de gentes. Mas gente não é coisa e mesmo com as coisas, caso as
precisemos trocar, é necessário um critério, porque a gente não pode ceder
sempre ao consumismo... Nem com coisas, muito, muito menos, com gentes.
Muito bom! Gostei! 😉👏🏾👏🏾
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