Essa
não é uma história sobre pássaros.
Provavelmente
você já ouviu uma história parecida ou viu num filme aquele “paraplégicozinho”
que voltou a mexer os dedos dos pés, lentamente, ou aquele “serumaninho” sem os
braços, mas que ainda podia sentir a textura do algodão doce nos dedos das mãos.
Essa
é uma história sobre mim, sobre você, sobre todos nós. Não fala de algo que
sentimos sempre, mas se você ainda não sentiu isso irá acontecer. Em algum
momento você precisará descobrir que não terá um vento, a vida toda, a lhe
impulsionar o voo. E então, o que você precisará fazer...
Certa
vez ouvi uma história sobre um pássaro que havia quebrado a asa numa de suas
aventuras, num de seus voos rasantes. O tempo passou e a asa foi curada. Mas
ficou ao pássaro, uma eterna sensação sobre ineficiência em voltar a voar.
Ficou a ele a sensação de que seu mundo estava restrito ao chão... Ele não
tinha anseios nem sequer de voar, quanto mais explorar novos voos rasantes.
Acompanhou-lhe durante todo o tempo, o vento, até mesmo quando estivera
enjaulado... O vento tocava-lhe as penas diariamente, até quando o pássaro
usava as ataduras.
E
o tempo foi passando. Muito tempo passado.
O
vento, em sua incansável tentativa de realizar sua função de impulsionar o voo
do pássaro. O pássaro, em sua persistente crença de que havia se tornado outra
criatura.
Não
consigo recordar, infelizmente, do momento mágico em que vento e pássaro se
encontraram e se uniram para completar seus ciclos: o pássaro, o ciclo de voar;
o vento, o ciclo de lembrar ao pássaro sobre o voo. Mas que aconteceu,
aconteceu.
Ora
somos vento, ora somos pássaro, ora somos pássaro com a asa “curativada”.
Em
que momento você está? Eu me encontro no momento de ser o vento. Intenciono
enxergar os pássaros, alguns, um ou outro pássaro em específico. Fazê-los voar.
Para isso é preciso saber ser vento. Eu não sei se sei. Às vezes, pássaros de
asas eternamente “curativadas” se enxergam como vento... É preciso saber que os
pássaros, alguns, um ou outro em específico, não reconhecem a função do vento.
Mas para o vento é a única opção ver os pássaros, um ou outro em específico,
alçarem voos, mesmo que voem longe e não precisem mais voltar.
Para
o vento, só é preciso fazer voar. Isso pode ser feito em qualquer céu não num
ou noutro em específico... Então, não tenho certeza, se me encontro vento ou se
me encontro pássaro, um ou outro em específico.
Há
em alguns pássaros, num ou noutro em específico, um desejo louco de fugir ou de
conhecer outros céus. Outros, um ou outro em específico, voam mesmo com a asa
“curativada”. Alguns, um ou outro em específico, tanto voam que transformam-se
em vento. Eu já estive pássaro, alguns, um ou outro em específico. Acho que
agora estou vento.
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