Pular para o conteúdo principal

Use, abuse e se lambuze - janeiro de 2015

Essa não é uma história sobre pássaros.
Provavelmente você já ouviu uma história parecida ou viu num filme aquele “paraplégicozinho” que voltou a mexer os dedos dos pés, lentamente, ou aquele “serumaninho” sem os braços, mas que ainda podia sentir a textura do algodão doce nos dedos das mãos. 
Essa é uma história sobre mim, sobre você, sobre todos nós. Não fala de algo que sentimos sempre, mas se você ainda não sentiu isso irá acontecer. Em algum momento você precisará descobrir que não terá um vento, a vida toda, a lhe impulsionar o voo. E então, o que você precisará fazer...
Certa vez ouvi uma história sobre um pássaro que havia quebrado a asa numa de suas aventuras, num de seus voos rasantes. O tempo passou e a asa foi curada. Mas ficou ao pássaro, uma eterna sensação sobre ineficiência em voltar a voar. Ficou a ele a sensação de que seu mundo estava restrito ao chão... Ele não tinha anseios nem sequer de voar, quanto mais explorar novos voos rasantes. Acompanhou-lhe durante todo o tempo, o vento, até mesmo quando estivera enjaulado... O vento tocava-lhe as penas diariamente, até quando o pássaro usava as ataduras.
E o tempo foi passando. Muito tempo passado.
O vento, em sua incansável tentativa de realizar sua função de impulsionar o voo do pássaro. O pássaro, em sua persistente crença de que havia se tornado outra criatura.
Não consigo recordar, infelizmente, do momento mágico em que vento e pássaro se encontraram e se uniram para completar seus ciclos: o pássaro, o ciclo de voar; o vento, o ciclo de lembrar ao pássaro sobre o voo. Mas que aconteceu, aconteceu.
Ora somos vento, ora somos pássaro, ora somos pássaro com a asa “curativada”.
Em que momento você está? Eu me encontro no momento de ser o vento. Intenciono enxergar os pássaros, alguns, um ou outro pássaro em específico. Fazê-los voar. Para isso é preciso saber ser vento. Eu não sei se sei. Às vezes, pássaros de asas eternamente “curativadas” se enxergam como vento... É preciso saber que os pássaros, alguns, um ou outro em específico, não reconhecem a função do vento. Mas para o vento é a única opção ver os pássaros, um ou outro em específico, alçarem voos, mesmo que voem longe e não precisem mais voltar.
Para o vento, só é preciso fazer voar. Isso pode ser feito em qualquer céu não num ou noutro em específico... Então, não tenho certeza, se me encontro vento ou se me encontro pássaro, um ou outro em específico.

Há em alguns pássaros, num ou noutro em específico, um desejo louco de fugir ou de conhecer outros céus. Outros, um ou outro em específico, voam mesmo com a asa “curativada”. Alguns, um ou outro em específico, tanto voam que transformam-se em vento. Eu já estive pássaro, alguns, um ou outro em específico. Acho que agora estou vento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Simplesmente desviver pareceu mais legal 24 de agosto, 2020

  As pessoas sabem pouco sobre a morte, mas, se pudessem discorrer sobre isso, teceriam muitas opiniões, inclusive sobre como se deve comportar diante dela... Abriu seus olhos lentamente... As pálpebras estavam pesadas, havia uma massa liguenta de muco que impedia seus olhos de enxergarem desanuviadamente... Naquele instante lhe ocorreu que estivesse morto porque tinha muita gente chorando e não conseguia ter certeza se era assim para todos, mas em geral, pelo que sabia da vida, as pessoas sempre resolviam chorar por quem morreu. Era diante da morte que lhes vinha o desejo de pedir perdão por tantas coisas: pela falta de gentileza, pala falta de paciência, pelo desamor, por um alívio inconsciente, por pensar nos projetos com a herança que iriam receber, por se verem sozinhas pra terminar de criar os filhos, por revolta por terem sido abandonadas, por não saberem o que fazer sem aquele ser cuja vida terrena se esvaía. Os que estavam no leito de morte, em geral também pediam perdão, mas

A beleza de ser professor! 15 de outubro, 2020

  Nas definições formais do que é belo, podemos encontrar “que tem forma e proporções harmônicas” e “que produz uma viva impressão de deleite e admiração”. Fico com a segunda definição, porque a primeira tem mais que ver com o que se pode enxergar e a segunda, com o que se pode sentir... A beleza se sente, porque realmente aquela que se vê com aquela possibilidade da simetria, não é real. Ser professor é assim, algo que se sente, pra quem é professor e pra quem é aluno. Na escola da vida todos temos nosso momento de ensinar e de aprender. Quando se transporta o ensinar e o aprender pras aulas da escola formal, isso continua sendo assim: ora se ensina, ora se aprende. Não importa quanto tempo passe, se você já foi um professor, se você já foi um aluno, é sempre essa sensação que vai ficar guardada em seu coração. E a gente aprende e ensina, muitas vezes na vida. Mas, para além das divagações, hoje é dia especial, é dia importante, é dia de homenagem, praquelas pessoas mágicas que no

Vem chegando a primavera 11 de setembro, 2020

E vem chegando a primavera... Tudo recomeçando a florir devagarinho, depois de alguns meses de espera... Tudo exatamente onde deveria estar... Os pingos grandes de chuva, esparsos, que chegam fazendo escândalo ao bater nas folhas largas das plantas, em meio aquele dia ensolarado... Uma nuvem que passa, pra nos lembrar que vem chegando a primavera e que tudo vai florir novamente... Não é à toa que a primavera é a estação mais amada por todos: nem tão quente, nem tão frio, mas um climinha gostoso de encanto que nos aproxima do verão, onde tudo se aquece mais... Não é à toa que ela vem do Latim para ser o nosso primeiro verão... Quando aumenta a umidade do ar e podemos sentir melhor os aromas e deixar vir à tona as melhores lembranças... Quando as jararacas saem da hibernação... Quando as lindezas com asas voltam a polinizar as flores... Quando podemos aproveitar os dias e a noites sem pressa, porque eles têm a mesma duração... As tulipas, as azaleias, os narcisos, as flores das cerejeira