Às vezes, a tristeza vem me pedir pra passear com ela... Ela se intitula tristeza, não sei bem se é tristeza, creio que seja só a nostalgia. Aí começo a revirar os guardados relembrando de histórias que os objetos me contam, que os bilhetinhos segredam, que as fotos tentaram capturar, sobre o que a memória cada vez mais fraquinha quer conversar. “Nesse às vezes” em que a tristeza vem querendo me mostrar lugares, começo a lembrar das pessoas e vou juntando o pouco que sei delas. Tento relembrar do momento em que cruzamos nossas vidas, do desenrolar de nossas vidas enquanto trilhamos o cotidiano. Meu Deus!! É tanta gente nessa minha vida... Tento querer saber sobre o significado que tive ou ainda tenho em suas vidas. Talvez seja difícil admitir que as pessoas possam seguir sem a gente. Que bom que podem, mas há algumas que ficam segurando nossos calcanhares... Ninguém quer ter seus calcanhares segurados. Acho que é por isso que mudo todo dia a cama de lugar: porque não quero que segurem meus calcanhares. Você me entende? Mudar a cama de lugar não livra meus calcanhares, mas é exatamente por isso que mudo a cama de lugar... Nesse passeio aí, não da cama pelo quarto, mas nesse em que saio com a tristeza, percebo que tem gente que chegou há tão pouco tempo na vida daqueles dos quais eu segurava os calcanhares e já tem muito mais fotos do que as que foram tiradas comigo... Acho que nessa época não havia essa infinidade de celulares com câmeras frontais. Já conhecem toda a família... Já foram aos nossos lugares... Nesse passeio aí parece que eu nunca existi... Aí... Eu seguro firme as mãos da tristeza, porque é muito difícil ficar sozinho no escuro. Ainda tenho medo dos monstros de debaixo da cama... Se eu nunca existi, ou se existi e não apareço lá, deve ser porque eu nunca estive segurando o calcanhar de ninguém, como eu pensava, como me queriam fazer ver... Eu tinha era os meus calcanhares segurados! E ninguém quer ter seus calcanhares segurados... Hora de avisar à tristeza que escolha passeios mais curtos. O de hoje durou demais. Não que eu não tenha empatia por ela, a tristeza. Compreendo perfeitamente suas necessidades, da tristeza, mas eu também tenho as minhas!
As pessoas sabem pouco sobre a morte, mas, se pudessem discorrer sobre isso, teceriam muitas opiniões, inclusive sobre como se deve comportar diante dela... Abriu seus olhos lentamente... As pálpebras estavam pesadas, havia uma massa liguenta de muco que impedia seus olhos de enxergarem desanuviadamente... Naquele instante lhe ocorreu que estivesse morto porque tinha muita gente chorando e não conseguia ter certeza se era assim para todos, mas em geral, pelo que sabia da vida, as pessoas sempre resolviam chorar por quem morreu. Era diante da morte que lhes vinha o desejo de pedir perdão por tantas coisas: pela falta de gentileza, pala falta de paciência, pelo desamor, por um alívio inconsciente, por pensar nos projetos com a herança que iriam receber, por se verem sozinhas pra terminar de criar os filhos, por revolta por terem sido abandonadas, por não saberem o que fazer sem aquele ser cuja vida terrena se esvaía. Os que estavam no leito de morte, em geral também pediam perdão, mas
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