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E você? Quantos calcanhares já segurou? Julho de 2016

Às vezes, a tristeza vem me pedir pra passear com ela... Ela se intitula tristeza, não sei bem se é tristeza, creio que seja só a nostalgia. Aí começo a revirar os guardados relembrando de histórias que os objetos me contam, que os bilhetinhos segredam, que as fotos tentaram capturar, sobre o que a memória cada vez mais fraquinha quer conversar. “Nesse às vezes” em que a tristeza vem querendo me mostrar lugares, começo a lembrar das pessoas e vou juntando o pouco que sei delas. Tento relembrar do momento em que cruzamos nossas vidas, do desenrolar de nossas vidas enquanto trilhamos o cotidiano. Meu Deus!! É tanta gente nessa minha vida... Tento querer saber sobre o significado que tive ou ainda tenho em suas vidas. Talvez seja difícil admitir que as pessoas possam seguir sem a gente. Que bom que podem, mas há algumas que ficam segurando nossos calcanhares... Ninguém quer ter seus calcanhares segurados. Acho que é por isso que mudo todo dia a cama de lugar: porque não quero que segurem meus calcanhares. Você me entende? Mudar a cama de lugar não livra meus calcanhares, mas é exatamente por isso que mudo a cama de lugar... Nesse passeio aí, não da cama pelo quarto, mas nesse em que saio com a tristeza, percebo que tem gente que chegou há tão pouco tempo na vida daqueles dos quais eu segurava os calcanhares e já tem muito mais fotos do que as que foram tiradas comigo... Acho que nessa época não havia essa infinidade de celulares com câmeras frontais. Já conhecem toda a família... Já foram aos nossos lugares... Nesse passeio aí parece que eu nunca existi... Aí... Eu seguro firme as mãos da tristeza, porque é muito difícil ficar sozinho no escuro. Ainda tenho medo dos monstros de debaixo da cama... Se eu nunca existi, ou se existi e não apareço lá, deve ser porque eu nunca estive segurando o calcanhar de ninguém, como eu pensava, como me queriam fazer ver... Eu tinha era os meus calcanhares segurados! E ninguém quer ter seus calcanhares segurados... Hora de avisar à tristeza que escolha passeios mais curtos. O de hoje durou demais. Não que eu não tenha empatia por ela, a tristeza. Compreendo perfeitamente suas necessidades, da tristeza, mas eu também tenho as minhas!

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